Casa desorganizada pode indicar que morador tem depressão e ansiedade


Uma vez que o homem é criador e criatura do ambiente em que vive, residências refletem o estado emocional, físico e mental de quem as habita. Ainda que observar as características domésticas possa ser um passatempo divertido, episódios crônicos de pilhas de louça suja e roupas espalhadas podem reverberar sofrimento mental e físico. A desordem que atrapalha afazeres mais simples do dia, como pagar contas antes do vencimento ou encontrar as chaves de casa, é um alerta, segundo especialistas, para um ciclo vicioso relacionado a transtornos mentais como depressão e ansiedade, além de problemas respiratórios, doenças cardiovasculares e obesidade.

Leia mais  notícias em Ciência e Saúde
Resultados de um estudo publicado recententemente na Environment and Behavior por pesquisadores da Universidade de New South Wales, na Austrália, mostram que ambientes desordenados provocam estresse e favorecem escapadas indulgentes da dieta. A equipe de Lenny Vartanian descobriu que, em uma cozinha bagunçada, mulheres comem duas vezes mais biscoitos do que participantes do mesmo sexo em um ambiente organizado.


Em outra etapa da pesquisa, metade das 98 participantes foi instruída a relatar épocas de descontrole na vida, enquanto as restantes falaram sobre fases de controle. Os dois grupos foram orientados a entrar no cômodo bagunçado. O resultado foi inesperado: mulheres que relembram momentos de controle comeram cerca de 100 calorias menos do que as que recordaram os episódios inversos. Segundo Vartanian, o estudo tem conclusões relevantes para profissionais de saúde e quem deseja perder peso. “Os resultados mostram que ambientes mais organizados levam as pessoas a comerem menos e que, mesmo que o indivíduo esteja em um local caótico, recordar momentos de autocontrole poderá ajudá-lo a resistir melhor à pressão”, conclui o autor.

Esse é apenas um dos prejuízos de um ambiente desordenado no organismo. Um exemplo da necessidade fisiológica de um lar em ordem vem do sistema digestivo, que, funcionando perfeitamente, processa e separa meticulosamente os nutrientes. “Como médico integrativo, percebo que pacientes que descrevem a vida como bagunçada, desorganizada ou ineficiente muitas vezes apresentam sintomas de inchaço, congestão, inflamação e má digestão. Se deixados sem tratamento, esses sintomas podem progredir para condições mais graves para a saúde”, diz Isaac Eliaz, pesquisador e médico na Clínica Amitabha, na Califórnia (EUA).

Cérebro confuso

Segundo Eliaz, ambientes desorganizados geram estresse por conterem uma grande quantidade de informações que confundem o cérebro. Além disso, atuam como um lembrete visual constante de que o trabalho está inacabado. O estresse perene, ainda que sutil, potencializa a hipertensão, aumenta a taxa de mau colesterol, favorece o tabagismo, o diabetes e o sedentarismo, fatores de risco para doenças cardíacas. “O estresse é uma mola mestra que interfere em todos esses fatores. Em episódios agudos, os picos hormonais de adrenalina, noradrenalina e corticoides, especialmente cortisol, se normalizam quando a situação passa. Mas, no estresse constante, esses níveis hormonais são mantidos e aumentam os riscos (à saúde)”, diz Lázaro Fernandes de Miranda, coordenador da Cardiologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

Além da obesidade, dos problemas digestivos e das doenças cardiovasculares, o estresse está envolvido nos distúrbios do sono, em doenças autoimunes e cânceres. “Evitar as fontes de tensão prolonga a expectativa de vida. Deixa-se de sofrer com o impacto da conjunção de todos os fatores de risco para doenças”, aconselha Miranda. Eliaz completa que a desordem e a sujeira incentivam a proliferação de fungos, bactérias e toxinas no ambiente doméstico. “Esses patógenos podem causar inflamação, doenças respiratórias e acúmulo de toxinas, proporcionando doenças crônicas no futuro”, alerta.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2016/02/14/interna_ciencia_saude,517711/casa-desorganizada-pode-indicar-que-morador-tem-depressao-e-ansiedade.shtml